sábado, 16 de novembro de 2013

Entre nós

Esses são versos livres
escritos de uma só vez
sem retoques
impulsionados por um sonho
recordações do que uma vez
escreveu V. Woolf
Interrompidos pela manhã
escritos nessa manhã


Entre nós
sempre existirá
a longevidade da 
distância
Inventada
para pôr fim
à minha felicidade 
e fazer-me crer
n'alguma outra
plausível convivência
dos corpos.
Entre nós
sempre
haverá
excesso de forma
de razão.

Entre nós
sempre insistirá
a dor da separação
(não dita);
As lembranças 
tão gastas
de impressões infinitas;
As promessas 
inabaláveis
Adormecidas
pelas horas
pelos metros
pelas lágrimas.

Entre nós
haverá
a perene sensação
de que foi
melhor assim
E em mim,
insuportável certeza
de que sou
e serei
vazia
sem ti.

E a despeito
do que há
entre
Por nós
sempre 
sempre
sempre e sempre
existirá
o amor.
Sempre.





"Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas".

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

os caminhos

Eu não ando me lembrando muito corretamente das coisas, mas por coisas não quero dizer que esqueço-me com facilidade de onde deixei as chaves da casa; refiro-me às minhas memórias afetivas. Dia desses, comecei a repensar as vezes que devotei algum sentimento a alguém e a maioria das pessoas, como resultado desse exercício, evidenciou-se em minha mente com uma força franzina, suplicante, quase impossível de provocar em mim qualquer recordação dos tempos passados – e certamente incapaz de provocar em mim qualquer comoção sentimental. Tornou-se praticamente impossível realocar-me tal como eu estive antes, quando por esses alguéns eu senti algum afeto – não necessariamente romântico. Talvez seja essa a ordem natural das coisas, talvez sejam as pessoas corpos de luz tão próximos de nós que a finitude de seu brilho coincida com o término de sua existência em nossos corações.

Nenhuma recordação está intacta aos adornos de nossa criatividade. Essa estabelece com a realidade passada uma relação de cômoda complementaridade, acrescentando aos fatos impressões do nosso subjetivo, das nossas emoções, de tal forma que a constante inventividade de nossos corações fazem inesquecíveis certas historias. As idéias doutrora adquirem contornos próprios, inerentes à correspondência com a entediante realidade. Houve o filme especifico, houve a música especial, aconteceu aquele passeio no determinado restaurante ou deveras viajou-se para aquela linda cidade, mas o que afastam esses fatos do clichê não é a sua existência física ou sua efetiva consumação, mas tão somente a decantação natural do que está insusceptível à passagem do tempo, repousando no fundo da alma como algo insuperável.


Apesar da esclerose afetiva que tem apagado pessoas em mim, a renovação das lembranças que possuo relacionadas a c. caminha na contramão dos demais, encontrando à sua frente uma via desobstruída, pela qual ela corre e sorri para mim. Parece que enquanto estivemos juntas, ela mandou abrir esse caminho de forma silenciosa, passando pelos lugares mais ocultos de meu ser, de modo que ninguém poderia usurpar-lhe sua trajetória ou igualar-se a ela em sua caminhada pela minha existência. Seus trajetos canhotos mostram-me parte de suas curvas quando olho para dentro de mim, mas olvidam dos meus sentidos boa parte de sua dimensão, de modo que pensar nela, embora limitadas as lembranças factuais, seja uma sempre inesperada agitação de doces sentimentos. Posso dizer que, em contrapartida ao caminho retilíneo que todos traçaram em mim até hoje, são os seus propositalmente curvilíneos, cabendo dentro do mesmo espaço que pela reta é curto considerado, a sinuosidade de uma vida inteira de saudades e de amor. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

o mundo é minha casa você é minha casa

A C. S.


Não adianta me prometerem
         Passagens
              Viagens
                   Lugares
              o Eldorado
Minha mente fixou-se
Num único canto de gente de todas as gentes
Enraizou-se 
no terreno fértil de seu ventre
Umidificou-se na sua boca
Cresceu na sua mão, 
seu substrato.

A História repete-se
Insiste meus sentidos incensar
Não importa que meu transatlântico
                        Coração
Enverede-se para outro continente
Noutras terras também floresce
o que em mim
Tornou-te bosque.

Talvez dos lados de lá
     Cresçais em mim com mais afinco
E o bonde que me saúda
A mina incrustada na montanha
O sol que tomo nalguma praia
Todos relembram-me: não adianta fugir
Ou nalguma calçada suspiro
“como gostaria que aqui ela estivesse!”

Noutros cantos também se ama
         Como aqui se faz
Meu sentimento transporta-se pelos mares
              Rarefeito
              Dissipa-se pelo ar.

D'alguma estranha cidade,
Reconheço saudades
nos edifícios nunca dantes vistos
e creio no que digo
“aqui já estivemos noutra vida”. 
Mentira.
Nunca andei pelos lados de cá
É que no sangue eu te carrego
E tudo que enxergo
         Em você se reflete
Então, meu amor
O mundo inteiro me parece familiar!