sexta-feira, 31 de maio de 2013

há tempos

A passagem do tempo nos traz uma ideia de mobilidade, que não deixa de ser verdade, mas também não é absoluta. Um dia após o outro leva a crer que a vida é uma simples consecução de eventos, de fatos, de pessoas, e o é, mas não de sentimentos. Preenchemos os dias com as atividades rotineiras, destoando do cotidiano em alguns momentos, nalgum final de semana ou num instante inusitado, mas a constância de alguns sentidos não deixa que o tempo seja imperativo em tudo, como se tudo perecesse com ele. Decerto, algumas pessoas, coisas e lembranças se vão por sua ação, mas outras o transcendem, a ele resistem justamente por não serem para nós apenas a matéria - que está sujeita à ação das horas -, mas por terem se eternizado em sentimentos delicados, etéreos, intangíveis e insuperáveis. Eles sobrevivem justamente por não dependerem de nada externo, eles são insuscetíveis ao tempo porque o tempo somente envelhece aquilo que há fora de nós; nossos sentimentos não são cabelos que simplesmente embranquecem e caem. Eles perduram e se mantêm imunes aos agentes da vida, às novas pessoas e experiências; eles ficam calmos ali dentro, cientes do seu lugar e do quão substanciais são comparados às frivolidades que experimentamos.

A passagem do tempo é algo curioso. É notável a diferença de como eu estava há um ano, um simples aninho, e de como estou agora. Sem ponderações de se estava mais ou menos feliz, o fato é que os dias dão uma falsa ideia de recomeço diário, mas eu bem sei que estou numa constante e que amanhecer não significa deixar no sono o que eu sentia ontem. De forma surpreendente, a vida vai se mostrando sob novos contornos, mas Deus não seria tão leviano de fazer com que tudo o que nos é apresentado e que de nós faz parte se fosse com as voltas de um relógio. Não. E então Ele nos capacitou amar, seja da forma fraterna, espiritual ou romântica, e o amor que sentimos é o que há de único nesse mundo capaz de sobreviver à correria diária, à infinidade de pessoas, à sedução dos prazeres.

Não pergunto-me até quando irei ser arrebatada por certas sensações que me tiram o fôlego e o chão, tamanha saudade. Não questiono até que ponto resistirá o que está aqui dentro - vai que seja isto algo que não sucumbirá ao tempo... o que posso dizer é que mesmo não sabendo quem terá força para em nós nunca desertar, alguns amores foram feitos só pra começar.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

ideias sem muita coerência trazidas por uma insônia que não vai embora


Por Deus! Todas as vezes que finjo me convencer de que a vida é um constante desfile de pessoas em minha realidade, por Ele que eu me reafirmo isso diversas vezes, no fundo eu sei que somente estarei bem quando me deitar ao lado de quem amo e então dormiremos num quarto onde o único som familiar será o de nossa respiração. Repetir até me convencer, talvez seja este o segredo, mas enquanto esta insistência não surte efeito, aquela ideia se delineia e se fortalece como única possibilidade de felicidade plena.

Existirá o dia em que eu me tornarei imune a estes pensamentos e que a vida parecerá comum, mas ela cobrará seu preço nalgum momento, quando me indagarei sobre o outro caminho que eu poderia ter tomado e não foi seguido. Existem muitos deles, todos são uma opção e a renúncia a um não implica em tristeza, de modo algum. O que os diferenciam é que alguns deles são imantados, exercem sobre nós uma atração destacada dos demais e os escolhemos sem saber o porquê, mas a verdade é que por meio deles estamos mais aliados à felicidade.


Inúmeras possibilidades aparecerão, mas é tão vago se apegar em estatísticas. Somente sou algo neste segundo, no qual existo por frações que quando ultrapassadas tornam-se passado. Quando digo que a amo ela somente é amada por este momento e então este amor renova-se, renova-se, renova-se... nos instantes seguintes, do contrário ele se perderia no tempo. Amor exige de nós constante reinvenção e é somente desse modo que ele se faz inesgotável.

sábado, 25 de maio de 2013

a perpetuidade do efêmero

Sonhei com ela noite passada. Estava eu andando pela calçada de uma avenida, as pessoas agitadas porque a chuva começava a cair aos pouquinhos; continuei no meu passo até que senti uma mão pousar sobre meu ombro, me virei e lá estava ela, atrás de mim e ao vê-la minha totalidade - braços, pernas, pele, rosto, cabelos... tudo - resumiu-se em coração. Naquele momento, eu somente pulsava. Meu choque cumpriu o lapso temporal de um estudo que fala que somente exprimimos verdadeira surpresa por no máximo cinco segundos após o acontecimento e deu lugar a um sangue doce que começou a me corar de vida novamente, ali, naquele devaneio do meu inconsciente, de frente pra ela. Sorrimos uma pra outra, de forma sincera, dois sorrisos de quem se reconhece no meio de "uma festa estranha com gente esquisita" e o sonho, reticente como tinha de ser, terminou: com a sua mão inerte e meu ser, revolução.

Sonhos duram segundos, se muito minutos, mas aquele durou uma vida resumida na simplicidade e rapidez de um sorriso. Depois, não houve mais nada. Desaparecemos na minha mente, insuscetíveis a qualquer desejo de que houvesse algum desfecho para aquele reencontro, até que nalguma outra noite eu a reveja e reviva o Interminável na brevidade de um cumprimento, de um abraço, de um aceno.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

"é de lágrima"

Minha amiga,

Uma vez você me disse, acertadamente, que a pessoa que eu procurava aí não mais estava. Observação direta e verdadeira, necessária para o momento que eu atravesso. Não digo que isso “abriu meus olhos” nem nada. Eu não estava iludida quanto ao contrário, mas foi importante para que eu lhe escrevesse esta carta, para que você, pela última vez, remetesse o que vou dizer em seguida àquela pessoa que eu tanto procurei reencontrar.

Meu amor,

Como eu te amo!

Você, que não deixou de ser você, mas eu deixei de ser para você quem fui no passado e à tristeza por te perder contrapôs-se a esperança de algum dia conseguir nos resgatar... eu falhei, amor.

Você me amou e me cuidou como nunca antes havia acontecido. Você é a melhor pessoa que já conheci e eu não me esquecerei de como me encontrava ao seu lado, não me esquecerei do seu sorriso e jamais perderei a imagem daquela menina que foi me buscar na rodoviária, quando nos vimos pela primeira vez. Saiba que a levarei comigo, na parte mais bonita de mim: no lugar que se desocupou quando eu lhe dei todo o amor que seria capaz de sentir e eu sabia que nunca mais seria a mesma desse dia em diante.

Se fôssemos analisar friamente, seria tolice negar que havia muita dificuldade para ficarmos juntas, que seria mais viável não termos que nos preocupar em daqui a quanto tempo iríamos nos ver de novo, em omitir isso de nossas famílias e não existiria mais a dor da despedida. A beleza em nós estava em sabermos de tudo isso tanto antes quanto agora e ainda assim  - e talvez por isso - termos sido tão, mas tão! felizes, como poucas pessoas foram. Sabe, amor, estávamos tão unidas que sobreviveríamos aos maiores entraves e aquelas barreiras, juntas, não nos causavam o incômodo de um cisco nos nossos olhinhos amanhecidos. O amor somente se manifesta naquilo que é inexplicável, ele somente é percebido quando as circunstâncias conspiram para que ele não fosse capaz de ali nascer e é como se ele desafiasse tudo isso e fizesse crescer naqueles corações algo tão bonito e que jamais teria força para despontar se em vez dele estivesse qualquer outro sentimento fugaz; o amor é ilógico por natureza e contraria a razão por prazer, ele somente existe para aqueles que são capazes de ir além – e nós fomos, amor. Como fomos!

Embora não mais pousem sobre mim aqueles olhinhos, eles se tornaram inesquecíveis e espero que leiam esta carta, pois sinto que  você, amor meu, já está longe demais, mas eu não queria que você se fosse sem antes eu me despedir.

Retiro todo o peso que não quis colocar sobre suas costas, mas que inconscientemente aí depositei. Desejo que estejam ao seu lado somente pessoas boas, que elas te façam rir, mas que também tenham a sensibilidade de perceber quando você precisar de um ombro. Amor, conheça muitos lugares interessantes, sempre procurando companhias tão agradáveis quanto e tenha a certeza de que eu nunca vou me esquecer de você e nem da sua família quando conversar com Deus. Quando se lembrar de mim, o faça com carinho e que a lembrança não dure mais que o necessário para alegrar seu coração e depois se dissipar; não se esqueça do que passamos e que isso te impulsione a buscar algo ainda mais bonito do que vivemos, mas em qualquer tempo eu estarei aqui para você, incapaz de te tratar com desdém ou qualquer outro sentimento que não seja carinho e atenção.

Somos incapazes de conhecer por inteiro uma pessoa. Por mais que fiquemos ao seu lado, quando pensamos entendê-la em sua totalidade, ela estava em constante mutação e o que foi compreendido no início da tarefa já não é mais como o apreendemos. Caso nos encontremos novamente, estaremos mudadas e espero que para melhor, mas uma coisa eu lhe digo: seus olhinhos podem visitar o mundo que eles, ao menos eles, sempre serão os mesmos para mim, amor. 


É com muita dificuldade que lhe escrevo isso (apesar de o amor ser algo livre, a paixão resiste em não deixar ir), mas leia-me - ainda que pela última vez - com aqueles olhos: vá, amor! Continue indo sem pesar, porque se seu lugar não é comigo, eu desejarei o bem a tudo e a quem te fizer sorrir. 

Amo você, meu amor. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

acho que sonho demais

Uma palavra, quando sai da nossa boca ou por nós é escrita, é somente meia-palavra. Ela apenas se completa quando chega aos ouvidos ou aos olhos de quem ela é destinada, quando nosso interlocutor lhe preenche a outra metade. Nunca será dito algo que se transportará estéril e limpamente até o outro, nossas frases sempre estarão impregnadas de significações, algumas mais distintas, outras mais congruentes.

As coisas que já nos foram ditas, todas elas, como todo o resto, estão sujeitas a essa regra . Há jeitos diferentes de se proferir palavras e podemos nos condicionar a ouvi-las de determinado modo: seja com o carinho, a curiosidade, a saudade e mesmo os sentimentos ruins, como a preguiça e a raiva. Neste sentido, quando gostamos temos que nos esforçar para ao menos tentar - e ainda que não passe disso - interpretarmos nossas próprias palavras pelos ouvidos ou olhos do outro, porque a complementação dada por ele ao que por nós foi dito é regida pelo seu coração e por sua cabeça, locais ocupados por nós.

Nenhuma metade de palavra jamais será integralmente correspondente ao efeito que gostaríamos que ela causasse. A maior obviedade já dita é atestar que nenhum ser humano é igual ao outro e a maior contradição, alegar que não nos entendemos por esta diferença. As distinções sempre existirão, quer queiramos ou não, e o que as faz transponíveis está no esforço que empregamos para ler ou ouvir com os sentidos de quem amamos o que ele nos quis dizer (e esta alteridade somente é possível entre pessoas que se amam, senão engaveta-se como não entendido ou loucura). Apesar da nosso entendimento, há o do outro, repleto de peculiaridades e tentar entendê-lo é essencial para que os passos continuem sincronizados - mas não é essencial ao amor, porque este sentimento não depende de palavras para existir.

Eu atribuo significados profundos demais às palavras que por mim são ditas e que chegam até mim. Talvez isso seja o motivo de ainda aqui escrever, talvez esse seja o motivo de acreditar que um amor só é da vida se durar a vida toda, talvez algum dia minhas palavras serão novamente complementadas de um jeito tão bonito que eu jamais imaginei ao dizê-las, talvez um dia eu também me silencie...

A vida vai tecendo distrações no nosso dia, fatores externos se esforçam para nos dar novas possibilidades e focos. Neste meio, eu vou me organizando, às vezes me esqueço, noutras muitas lembro. Nesta história, eu vou andando, redescobrindo cores em lugares antes inanimados e quando menos se percebe, horas se passaram. Cada vez mais o vazio aumenta, assim como minha capacidade de viver com ele, mas sempre existirão as manhãs e a saudade, antes mesmo que meus olhos se abram. A verdade é que a vida vai se ajeitando da maneira que pode, tentando ser atraente o máximo possível e algumas vezes até me deixo enganar, mas a minha alma continua chamando pelo mesmo nome...






quarta-feira, 15 de maio de 2013

1ª carta

Acordei com um aperto no peito, com uma sensação incômoda dentro de mim. Não gosto de sentir isso, então pedi ao meu anjo que retirasse dessa sensação qualquer fundamento e logo depois o enviei para o seu lado e ele foi, me assegurando que aí permaneceria, de prontidão, motivo pelo qual eu fiquei tranquila. Todas as vezes que você sentir qualquer pontadinha ruim no coração e não souber o que fazer, não se preocupe: é só fechar os olhos e perceber que ele está aí, com você.

Não estou muito bem para escrever hoje, esse aperto me incomodou um pouco, mas que ele tenha acontecido pela falta que sinto de você e não por qualquer outro motivo que te tire o sossego. 

Passado isso, só queria lhe contar que senti uma saudade de você, neném. Senti uma gigante saudade de sua amizade, de sua companhia... Foi algo diferente, porque é claro que  sinto sua falta se em todos os sentidos, mas o que pesou hoje foi esta saudade em particular, que nos dá uma sensação de que podemos esbarrar com mil amigos e colegas durante o dia que nenhuma completará aquele vazio que faz uma pessoa ser única nas nossas vidas; por mais que se tenha um bom amigo para conversar, é diferente, o diálogo não é solto daquela maneira e a vontade de dividir o que se passou não é nem perto da que sentia contigo - pelo contrário, às vezes dá até uma preguicinha... 

Enfim, hoje eu te escrevo sem floreios, sem "doce demais" (o que é difícil, tendo em vista que sou sentimental além da conta), mas apenas para te contar do quanto eu sinto falta daqueles papos que tínhamos, do seu jeito comigo e das vezes que ficávamos em silêncio sem nos constranger por isso (os silêncios constrangedores dos quais fala Mia Wallace).

Não vou reler este texto e nem retocá-lo. É uma espécie de carta na qual, no final das contas, só reafirmo o quanto quero seu bem e quando esse bem se sentir ameaçado por qualquer motivo, converse com o meu anjinho que está aí com você, de guarda, que ele me transmitirá o recado, ainda que nas entrelinhas, e eu te enviarei amor, porque eu o sinto por você de muitas formas e mesmo que algum dia ele diminua, eu ainda terei muito amor para te mandar.

terça-feira, 14 de maio de 2013

you who are my home





Por uma única vez na minha vida eu experimentei de perto o amor. Não digo que o senti, porque este sentimento não está no passado, mas que o experimentei porque não mais o tenho perto para dar vazão a tudo que sinto por ele, para tocá-lo e protegê-lo.


Uma vez eu estive bem pertinho do amor, como nunca dantes estive. Eu o coloquei em meus braços e o acariciei até o sono vir visitá-lo; eu o vi acordar por muitos dias, amando-me e com os olhinhos semicerrados, parecendo dois filetes d'água. Cheguei a tocar o amor de inúmeras maneiras e ele me envolveu forte em seu peito. E eu lhe asseguro que nesta única vez que eu o senti muitas coisas na minha vida ganharam sentido.


Nós fomos a muitos lugares (mas não o suficiente para conhecer o mundo todo ao seu lado, como eu gostaria de ter feito) e nos divertíamos em qualquer calçada; nós passeamos e estes locais eram realmente interessantes, mas por mais intrigantes que fossem, nenhum fascínio ganhava quando nos lembrávamos que podíamos voltar pra casa e ali ficar, agarrados e em paz.


A vez que eu o tive, que estive com o amor, ele me encantou com as delicadezas mais sutis e com os carinhos mais infinitos; chegar perto dele me mostrou que eu nunca havia chegado tão próximo da felicidade, porque felicidade sem amor é somente contentamento. E eu fui cada vez me arredando para o seu lado, sem medo e sem receio, porque ele falava comigo, amável e doce, “Vem aqui, amor, fica perto!” e então meu riso rasgava meu rosto de uma porta a outra e meu coração, ah... o meu coração!


Eu vi o amor nas coisas mais simples do mundo: nas noites em que cãibra alguma resistia à vontade de dormirmos grudadas, nos dedos mindinhos enroscados furtivamente debaixo da almofada e no “Eu te amo” dito baixinho no meio do circo (porque espetáculo algum é capaz de adiar sua necessidade de amar). Perto dele, eu lembrei da vida passada e aprendi que prazeres podem até nos satisfazer por um tempo mínimo, mas que somente ser amada nos faz feliz.


Cada pessoa que eu amo - ela, meus pais, minhas irmãs e alguns poucos amigos, têm em meu coração uma casinha. Algumas têm fundações mais ou menos firmes e cada uma é diferente da outra. A casa onde ela morou, apesar de algumas tempestades e ventanias, ainda encontra-se de pé: os tijolinhos que a levantaram são muito fortes e seus pilares são de lealdade e respeito. Suas paredes são decoradas com quadros coloridos estampados de carinho, ternura e delicadeza. No único quarto – pequeno e aconchegante - há uma cama, cheia de cobertas grossas, clarinhas e limpas, onde ainda estão impressos nossos sonhos, e ela é banhada toda manhã pelo sol que entra pela janela ao lado, purificando-a de tudo que é ruim e esquentando aquele canto no qual ela dormia. Eu cuido desta casa não porque ela pediu, mas porque em amor que é abandonado nascem rachaduras que empobrecem o coração, desmoronam cantos que empoeiram a nossa alma e crescem ervas daninhas que poluem a cabeça com mágoas. Eu cuido desse amor porque ele é muito sólido pra desmoronar de uma hora pra outra e enquanto ele estiver altivo e firme, eu o quero bonito caso algum dia ela venha me visitar.


domingo, 12 de maio de 2013

eu sempre vou querer subir

O que mais tem aliviado meu coração nos últimos tempos tem sido deitar no colo da minha mãe e ficar ali, quietinha. Eu queria trazê-la pra perto de mim, para que ela morasse aqui comigo e que nessa hora da noite, quando meu coração mais aperta e o sono insiste em não vir, ela pudesse me colocar no seu colo e me acalmar.

O último dia que nos falamos pelo telefone foi um dos mais pesados pelos quais passei. Eu não encontrava lugar no único lugar do mundo que me aconchegava naquele momento: na minha casa. Numa inquietação que eu não conseguia identificar, eu flertei com o desespero, eu estava muito atordoada porque eu vi, em duas semanas, você voltar e depois, partir. Eu estava desesperada, mas eu não queria te fazer voltar, eu queria que você olhasse pra mim e andasse em minha direção por sua vontade, por isso eu estava tão aflita: você não olhou, só andou adiante e eu não sabia o que fazer, amor.

Depois de tentar te ver ao ir pra São Paulo, a margem de erro daquela viagem se concretizou e eu voltei pra cá sem te encontrar, sem te dar o que eu havia lhe comprado e sem você - porque, naquele momento, eu achava que se você me visse e me abraçasse, se você sentisse meu coração disparar contra o seu, você iria querer voltar. O amor é um sentimento grande demais e por isso mesmo, por esta grandeza, as vezes até ele, que não é livre de defeitos, é prepotente. Quando eu fui embora, ouvindo incessantemente Jeff Buckley, eu chorei muito, mas menos por sua negativa em me ver do que por comparar aquela partida com as outras de antes, que embora tristes, eram paradoxalmente felizes por haver a certeza de que teríamos outras despedidas.

Na segunda vez que fui, somente aí estive porque eu não tinha escolha. Eu não queria ter ido, eu não queria ter passado pelo mesmo caminho do metrô e descido na estação Brigadeiro, muito menos queria ter passado na porta da sua casa. Foi uma coisa tão, mas tão ruim! Eu tava ali, sabe? Eu não estava "perto", como na vez que fiquei na casa da minha amiga, mas eu estava ali, em frente, e eu não conseguia pensar em mais nada a não ser em subir, em bater naquela porta, te abraçar e chorar tudo o que eu queria chorar ali e que choro agora por não mais poder entrar na sua casa (que antes, por amabilidade e pureza de quem está apaixonado, chamávamos de nossa). Eu queria me enfiar na sua cama e ficar quietinha naquele canto, apenas certa de que você estava ali do meu lado, e ter chorado muito pra descarregar o que o meu peito sentia naquele instante. Ao passar pelo prédio, eu olhei para trás e me lembrei da visão da sua janela, em como eu parava nela as vezes e observava a Paulista e imaginando-me daquele ângulo ali embaixo, eu não mais era seu amor, tão somente mais um dos que passavam pela avenida e tudo o que eu quis foi subir e me entregar a você, encaixar-me no seu colo e nele chorar, ele que me protegia tanto quanto o da minha mãe.

Eu não gosto de lembrar desses dias, mas eles não saíram da minha cabeça hoje. Eu não me senti decepcionada, você nunca disse que me encontraria, nunca me garantiu nada, e só estou te contando tudo isso agora porque talvez minha angústia seja por pensar que você não tinha noção do quanto eu queria te ver e com isso você descobre, se antes já não sabia, o quanto de mim ficou aí, com você, naquele quarto, naquela cama, naquela janela.

Tudo que vivemos foi tão bonito que, a contrassenso dos términos convencionais, eu não desejo apagar seus traços. Pelo contrário, eu os cuido, os mantenho intactos, os protejo de qualquer deturpação que tente poluí-los, de qualquer ideia ruim que tente maculá-los, porque você está neles, você está na minha cama, na medalhinha de São Bento, no estojo da Guatemala, no quadro e nas HQ's do Batman. Você está em tudo dentro de mim e que não seja ruim, você está em tudo mesmo que não queira estar; seu colo continuará sendo o melhor lugar do mundo mesmo que você não queira; eu continuarei a escrever mesmo que você continue andando sem me olhar e continuarei a querer subir mesmo que você sequer imagine que eu esteja na sua porta.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

tudo que importa

Sabe, eu não queria nada além dela aqui do meu lado, corpo mole de sono, com seu dedão do pé encaixado no meu. Não queria nenhum lugar do mundo que não fosse uma cama dividida com ela, em que estivéssemos bem cobertas e desenvolvêssemos conversações bobas e espontâneas. Não desejaria nada que não fosse a mão dela na minha, sentindo os nós dos seus dedos e acariciando sua palma, não pediria nada além do seu rosto no meu colo, motivo pelo qual me faria vez'enquando interromper o cafuné pra pedir um beijo. Não me importaria nada que não fosse acordar e vê-la ao meu lado, abraçá-la forte e voltar a dormir, não me importaria nada que não fosse procurar encostá-la de alguma maneira, ainda que no mindinho, quando as circunstâncias não permitissem qualquer toque. Entenda que eu não pediria nada senão ter a segurança dos seus braços e a serenidade de suas expressões, não me faltaria nada se me fingir de brava por ela me apertar fosse a única coisa artificial da minha vida agora. E eu estaria satisfeita por nos apressarmos para chegar em casa para enfim ficarmos juntas.

Estamos sempre desejando algo mais: quando tê-la perto era possibilidade, desejava que o tempo corresse para que pudesse encontrá-la; quando estar com ela era a realidade, desejava que aquilo nunca acabasse; agora que não há nenhum dos dois, desejo dormir toda vez que me recordo que não posso mais desejá-la.

Sabendo que com tudo isso não me faltaria nada, ainda bem que sabia que isso era tudo quando o tive.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A você que me fez tão feliz

A você, 

que me abraçou forte e pediu que eu não saísse do seu lado,

digo que foram levados a sério seus pedidos.

Para você, 

que me enchia a cada hora com amor e que para me encontrar contava os dias,

estarei aqui para quando você precisar.


A mim, 

a quem não cabe competir com paixão ou novidade, 

a quem não cabe tentar te convencer do contrário, 

somente peço sabedoria para que nunca transforme este amor em antônimo de minha felicidade
.

A mim, 

para quem não é nenhum mistério o que sentirei amanhã, 

que não me reste o desespero;

que não me reste a ilusão nem a mentira,

apenas a consciência da realidade e o respeito ao que sinto. 


Digo a você, 

que tanto desejou que morássemos juntas,

que aí continua sendo meu lar, 

mas desejo para mim, 
caso eu não possa voltar pra casa

que eu siga caminho quando estiver pronta,

quando o passo adiante for sincero.


A você, 

quem eu pensei nunca sair do meu lado,

não me enganei: eu continuarei te carregando comigo
.

E para mim,

que estou tão longe de você, 

que as palavras continuem aliviando meu coração.

Falo a você,

para quem hoje sou uma lembrança,

que ainda é viva a sensação de atravessar aquele corredor do seu prédio - que se tornava quilométrico - para te ver logo,

assim como é nítido seu abraço e seu sorriso.

E falo a mim para que eu não me aflija perguntando-me para onde foi todo aquele amor, 

mas tão somente eu seja fiel ao meu até onde ele queira ir.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

respostas a nenhuma pergunta

Diante de tantas respostas sem perguntas, eu poderia dizer que as afirmações de agora são anacrônicas, mas irrepreensíveis. A frase não está na ordem errada não, são respostas que existem sem que eu as tenha construído racionalmente e que não nasceram por indagações suas.

Talvez por inexistir um interlocutor - você - que dê sentido a estas respostas, até quando meu coração permitir elas se renovarão a cada dia esperando pelas perguntas que lhes deem sentido. Pode ser teimosia, estupidez ou sonho, mas o fato de que não há razão para nada de você esperar não impede que meu coração por você espere. Elas contrapõem-se às evidências mais fortes - e que destruiriam qualquer sentimento que não fosse amor dos grandes, mas que não conseguem arruiná-las porque são mais que respostas, são verdades.

Para a inexistência de questionamento a respeito se estou ao seu lado, asseguro-lhe que daí nunca saí; quanto à indiferença em relação às saudades que sinto, assevero-lhe que nunca senti tanta falta de alguém como de você sinto; para a ausência de dúvida sobre se ainda te amo, é seu todo o amor que posso sentir.

E assim elas vão se reafirmando para o mundo ou para o nada, sem que eu faça ideia se isso faz algum sentido para você ou se algum dia deixará de fazer pra mim. 



terça-feira, 7 de maio de 2013

ficará

São raras duas pessoas que se amam encontrarem seu sincronismo quanto aos demais sentimentos. Não é que haja falta de amor, que uma seja mais descuidada que a outra ou que falte carinho, simplesmente as frequências, na maior parte do tempo, estão desajustadas. Essa perspectiva pode ser um tanto quanto pessimista, mas não é fatídica, porque, como disse, há casos que fogem à regra e mostram que sim, duas pessoas podem caminhar juntas, sem maiores percalços.

Tudo o que escrevo aqui é para quem caminhou comigo e alimentou meu coração por tanto tempo. Você mudou sua visão, suas vontades e desde que isso te faça feliz, eu me alegro por você, mas aquela que foi para mim tudo o que sei até hoje sobre ser amada - nas vias do amor romântico - não desaparecerá. A sua existência não se extinguirá com o tempo, pela sua vontade e quiçá pela minha, ela permanecerá, nunca será apagada, banida ou esquecida. Você, na pessoa que me amou, nunca mais desaparecerá de mim e isso é algo além e acima de nós duas, como a passagem do tempo.

O que você me deu não mais compete a mim superar ou a você retomar, é algo intangível por nós, que pode não saber onde se encaixar agora, mas que anda com os próprios pés e faz o que bem entender. Por isso, de nada adianta esses mantras para esquecer, esses conselhos de (des)amor... Quando me deparo com alguma dessas besteiras, meu coração sente vergonha por tamanho atrevimento de tais métodos buscarem medir forças com você: assim como as demais pessoas que não são a C. que me amou, eles não são páreo.

Eu não sentiria medo por te rever, não sentiria porque saberia os sentimentos que tal reencontro provocaria em mim. Tenho a certeza que minha visão sua como mulher, como amiga e como companheira não sofreram qualquer degeneração, diria até que se lapidaram. O que me causa tristeza é pensar "e se nós não nos reencontrarmos nunca mais?!", mas isso é algo no qual eu evito pensar, pois na saudade o "se" é um aliado forte do desespero. Somente direciono meus pensamentos para a falta que sinto de você e para o bem que lhe desejo.

Não sei se você vem aqui, mas caso venha e não mais tenha dentro de si os mesmos sentimentos que antes tinha por mim, não sinta nada de ruim, nada mesmo, eu estou tranquila. Não encare esse amor de uma forma depreciativa, caso você não sinta mais amor por mim, veja-me como alguém que te ama e com quem você pode contar, não importa a ocasião. Caso você venha aqui só por simples curiosidade, não tem problema, eu te amo de graça e incompreensivelmente.

Boa noite.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

pressa e espera

Já é esperado por mim todas as noites somente conseguir dormir depois de muito tempo rolando na cama, desgastando pensamentos sobre você, mas que pelos devaneios da mente transportam-se para coisas aleatórias e depois voltam ao ponto de partida. Não digo que me acostumei com isso porque é incômodo e às vezes acompanha-me uma dor de cabeça, que não trato com remédio pra não me acostumar a este hábito ruim, mas também não é insuportável, pois é o momento que estou mais perto daí. Não são raras, mas em menor proporção, noites que deito na cama e durmo após rezar... algum dia ainda serão mais frequentes.

Enfim, fato é que a insônia me visitava antes como agora, mas daquelas vezes era porque eu esperava algum sinal, policiava meu telefone para não deixar passar alguma mensagem ou ligação que viesse de você. Eu acreditava que lhe atenderia e escutaria "amor, tô com saudade, quero voltar". Hoje, não nego que ainda me pego nesses sonhos, tão distantes quanto estamos agora, mas a consciência solidifica-se cada vez mais e o afastamento em que estamos, crescente, briga com minhas esperanças, as estapeia e as acua num cantinho escuro aqui dentro. Não mais verifico meu celular nem minha caixa de e-mail com frequência, não vislumbro qualquer manifestação sua, sequer faço ideia se você lê o que aqui escrevo. Cada vez mais estou familiarizada  com a melancolia que a realidade sem você inevitavelmente proporciona.

Não nego que a tudo nos acostumamos e eu não sou diferentemente adaptável. Arrumamos mecanismos para nos distrair e comigo não seria exceção. Mas isso em nada significa que sua falta perde espaço ou diminui, somente que eu te revivo na cabeça de formas diferentes e justamente devido a essa aceitação, quando você reaparece de súbito, nalguma lembrança, meu coração aperta como se o espaço em que ele está encaixado de repente diminuísse. Tento parar, me acalmar e seguir estudando, ou vendo o filme, ou fingindo prestar atenção na fala do meu interlocutor.

Eu não sei o que se passa na sua vida, não sei o que aconteceu no episódio do assalto e não me abalei por você ter ignorado minha preocupação; não sei com quem você tem feito suas coisas e muito menos quais são seus planos. Eu não tenho nada de você, nenhum retorno, não percebo nenhum sinal vindo de sua parte e não acho que você está errada em assim agir, pois não é mais sua vontade me manter em sua vida. O que eu não sabia era que poderia amar alguém a este ponto, desta forma e força; não me sinto tola por isso, tão somente sincera com o que há aqui dentro e um tanto quanto resignada. Perder é a única coisa que nos faz humanos; cada vez me conheço mais internamente e que assim continue, até estar pronta para dar o próximo passo, ainda que seja de tartaruga, ainda que eu vá meio centímetro adiante no mesmo intervalo que você se distancia mil quilômetros de mim.

Por mais uma noite eu vou te mandar meu amor da maneira que posso, pelas palavras daqui e pelas preces dos levianos que somente se lembram de Deus nas desgraças. Mais um dia se passa e você esteve mais presente em mim do que qualquer outra pessoa de meu convívio, mais uma noite se passará em que eu temerei acordar e de encarar o vazio que é perceber que você se foi. Dói estar tão longe, dói tudo cada vez mais ter sido como um devaneio vivido por meses, que guardou uma felicidade agora inatingível. Mas, apesar da dor que acompanhou meu despertar, embora esse sonho tenha terminado, eu te trouxe  para a minha realidade, como se você soubesse transportar-se pelos planos; você, que se não é o amor desta minha vida, será de outra e talvez eu só tenha me apressado demais pra viver com você agora, por não aguentar de tanto amor que já sentia.

domingo, 5 de maio de 2013

banquinhos

Eu vivi em pouco tempo o que pessoas amam em uma vida inteira. Pode-se tranquilamente chamar isso de intensidade ou exagero, mas ao conversar com meu avô numa tarde dessas, sentados no banquinho que tem em frente à minha casa, quando puxei um papo despretensioso sobre ele e minha avó, concluí que o que sinto é só amor mesmo.

O que vivi com C. não se transmite, nem se transcreve. O que vivi com ela foi a coisa mais linda que já me aconteceu, foram os sentimentos mais bonitos que já senti. A curiosidade e a novidade não produziam qualquer efeito sobre mim, sobre meus sentidos: existia C. e mais ninguém. Chegava perto da incredulidade aquela felicidade plena que me arrebatava todos os dias quando eu me colocava de pé.

Depois do tempo que passamos juntas, entendi que damos nomes a sentimentos sem ter nenhuma propriedade para isso. Antes da C. eu, que já tinha usado a torto e a direito a saudade e o amor, não tinha a menor noção do que ambos significavam. Agora, feliz ou infelizmente, eu entendo que saudade é perene, intermitente, constante no coração, nas lembranças, nos gestos, nalguma vitrine ou num objeto que nos reporta imediatamente à pessoa que amamos. Saudade reside dentro e fora de nós e não importa quanto tempo passe, ela seca a boca, esfria a barriga, faz chorar e sorrir, sem anunciar que está chegando, ao menos para nos prepararmos um pouco: ela vem de uma vez e nos faz interromper a leitura, perder a atenção da música, abaixar a cabeça e inspirar até quatro e soltar até seis (muitas vezes).

Amar C. me mostrou que podem existir pessoas que marcam, mas somente uma fica, independentemente das nossas vontades. Ela se foi, sim, pode nunca mais voltar, também, e eu não serei a mesma para o resto do mundo, porque a gente é assim, fingimos algo para os outros e eles fingem que nos conhecem, porque é mais fácil, mas bastaria poucos minutos de conversa - ou mesmo me olhar - para que ela me reconhecesse e percebesse que somente ela permaneceu.

Meu avô vive há mais de cinquenta anos com minha avó e ainda a ama, assim como ela o ama, mas poucas pessoas terão a sorte que ambos tiveram. Meu avô passou por todas as fases de felicidade com minha avó e hoje, a alegria para eles resume-se no companheirismo que perdurou, na amizade, no prazer de ficar naquele banco, ao lado dela, vendo a vida passar na pacata rua de nossas casas. Meu avô, naquele dia, me mostrou que nada posso prever sobre o percurso, mas, ao olhá-lo, percebi que no final eu também estarei assentada nalgum banquinho, com ela do meu lado ou ainda esperando-a pra completar nossas palavras-cruzadas.

Amo você.

sábado, 4 de maio de 2013

sem C. blues

Quando as coisas entre a gente terminaram, eu confesso que não me situei muito bem naquele contexto e não entendi o que aquilo significava. Chorei, como não poderia ser diferente, mas naquele momento as lágrimas eram mais pela falta imediata que eu sentiria de você no meu cotidiano do que pela dimensão do fim. Era uma coisa mais pelo costume.

Depois que as coisas terminaram, eu fiquei meio aérea ao que estava acontecendo, não compreendia muito bem os efeitos daquela ruptura e passei a agir de uma forma ininteligível. Eu tentei me distrair saindo algumas vezes, conhecendo pessoas novas e que, à primeira vista, apresentavam papos agradáveis e inéditos. Passou-se algum tempinho - o necessário para que algumas percebessem minha falta daquele ar super-cool de quem se mostra interessante-demais-pra-ser-verdade - e eu entendi que os lugares mais nocivos que eu poderia frequentar seriam festas e mesas de bares e que as pessoas mais entediantes que eu poderia conhecer viriam depois que eu convivi com você.

Passei a ficar mais em casa e a ver em cada canto de parede, em cada quadro e roupa de cama vestígios de suas vindas até aqui. Depois que a fase da suspensão, do choque passou, eu comecei a dormir cada vez mais encolhida de tanta dor que sentia nas costas por chorar e chorar e chorar... minhas costelas doíam tanto e eu virei uma engrenagem do meu próprio dia: trabalho-faculdade-cama, tudo intermediado por chás e cigarros - não vou mentir. 

Poucas pessoas do meu convívio sabiam de sua partida e eu conversei com algumas sobre, mas nunca para lhe depreciar, na maioria das vezes ficava engolindo o choro ao falar de como eu sentia sua falta. Mas aí cansei de falar também. Cansei porque todo mundo tem um conselho enlatado sobre isso, um ar de sapiência para dar palpites em como meus dias seriam dali em diante e isso foi me exaurindo, então eu guardei você só pra mim, só pra mim. 

Esperei por algum e-mail, por uma ligação ou mensagem, que vieram algumas vezes, mas nunca no teor que eu tanto aguardava, pois eu queria mesmo era viver com você de novo.

Depois que você foi embora, eu senti a dor de pensar em você com outra, um ardor no coração que não cessava e eu apertava minhas mãos uma contra a outra e pedia incessantemente "faz passar, faz passar...". Superados os surtos de ciúmes, eu tentei me elevar, abdicar dos meus egoísmos e encarar que existiria(m) outra(s), então a despeito de tudo, desejei que ao menos fosse alguém de caráter, mas continuei chorando por lembrar do seu quarto, da sua cama, do seu colo. 

Entendendo que as coisas não seriam esquecidas, eu ao menos tentei desgastar ao máximo todas as lembranças que tinha sobre você, todos os nossos momentos juntas. Recrutava incessantemente estas memórias para que, sei lá, na milésima vez que eu me lembrasse de algo, não machucasse tanto como vinha fazendo. Não adiantou: sempre aparecia algo novo, uma oração dentro da igreja Tiradentes quando pedi a Deus que me fizesse sua esposa ou sua coragem em peitar o mundo ao segurar minha mão na rua. 

A segunda chance que eu tanto quis pra nós veio, mas você não conseguiu ficar por muito tempo e eu, apesar de te amar muito, não gostei de você naquele momento. Depois, malogrei o destino e o culpei por eu não ser o amor da vida do amor da minha vida. 

O temor de dormir retornou, não pelo sono, mas porque a hora de acordar era o pior momento do dia, quando me levantava, sentava na beirada da cama e ainda confusa, enebriada, via clarear na frente a realidade daquele dia inteirinho sem você. Depois que você se foi, as horas ficaram mais preguiçosas.

Cheguei a pensar que os culpados dessa dor eram meus pais, por terem me feito crescer e querer alguém que vivesse comigo um amor tranquilo e apaixonado igual ao que um tem pelo outro. Fui absurda a esse ponto. Depois voltei a sã consciência e vi que essa ideia de amor era linda demais e que não existiu nada depois que você me deixou justamente porque amor só existiu depois que você me encontrou.

Atingi o momento da reflexão e comecei a pensar em todos aqueles outros casos de gente que se separa e segue a vida. Comecei a repassar frases como "ninguém morre de amor" ou "todo mundo já passou por isso" na cabeça e senti enorme raiva por esses clichês acharem que sabiam alguma coisa sobre você e sobre mim. Senti nojo por ousarem nos igualar àqueles casos que se resumem a "passar de em um relacionamento sério para solteiro". Me fechei ainda mais prum mundo que acha que amor é doença, que isso "se cura" bebendo ou botando alguém no lugar. 

Depois que você se foi, eu não desisti da vida, claro que não!, mas eu tô cada dia mais reclusa, mais quieta, menos rodeada por pessoas. Cada dia eu me reergo um pouquinho, tento cuidar com mais otimismo das minhas coisas e ter mais cuidado com minhas costas antes de dormir; além disso, continuo a te visitar cada noite da maneira que posso e converso com você baixinho. 

Depois que você se foi, cada dia eu choro um pouquinho, mas diferente de triste ou magoado, é um choro contido de saudade, simples e quase imperceptível, que é diário porque meu coração é mais feliz por você chorar do que por qualquer outra sorrir.

Depois de você eu continuo parada no antes do depois, suspensa, como a bolha opaca de sabão de Caio Fernando.

Saudades, amor. Sempre.




sexta-feira, 3 de maio de 2013

bem, bem, bem alto!


Os pedacinhos do meu mundo perderam em graça. Cada aspecto do meu dia, do meu cotidiano, encontra-se agora desajustado com as minhas vontades e com meus pensamentos. Eu estou cada vez mais solitária e escolher entre a solidão ou a companhia de outra pessoa não é uma opção, porque você continua preenchendo todo o meu coração, minha mente, meu corpo.

Doeu ouvir certas coisas - que eu sei que você sequer sabia que causaria isso - como  "você faz planos pra gente e eu só consigo fazer os meus sozinha" ou "não quero ser responsável por sua felicidade". Você pediu a mim que eu não entrasse de cabeça nisso, mas eu te digo uma coisa: tá tarde demais. Desde 25 de novembro de 2011 (já faz um tempinho...) que eu estou totalmente imersa "nisso". Não tem mais volta e eu não tenho mais você ao meu lado, e agora? Agora é cuidar do coração e arrumá-lo de um jeito que ele melhor acomode esse amor que continuará crescendo, mesmo que de longe.

Depois que você se foi da última vez, que realmente viu que não consegue ficar comigo, eu senti mais tristeza que da primeira. Foi como se dessem uns tapinhas nas minhas costas e dissessem "é, agora ela viu que não dá mesmo". Eu me senti meio boba por ter enchido tanto o peito e a cabeça com expectativas boas, felicidade, mas não deixou de ter um lado bom, pois eu vi que não perdemos o jeito e que aquela minha menina continua aí dentro - pode estar meio escondida, é certo, mas ela continua e se me permite dizer, não a perca de si não, mesmo que eu não seja a pessoa certa para cuidar do seu coração, não a perca de si.

Não te julgo pelo seu foco exclusivo em você mesma, por sua concentração em você, mas, apaixonada por você que sou, eu sinto uma saudade(!) daquela de antes, que deixava seus medos pra trás e arrumava um lugar na sua vida pra mim, mesmo tudo sendo tão difícil. Sinto falta de nos sentir transbordando de amor e de te reencontrar muitas e muitas vezes, apesar das despedidas. A vida ao seu lado era bem mais bonita e calma que a de agora.

Eu tive o que julgo ser o melhor de você, porque nunca fui tão amada e tão feliz, talvez seja por isso meu único caminho ser a solidão: eu não vou parar de sentir amor por você. Talvez outra pessoa algum dia fará aquela que me amou tão bonito ser mais imponente que suas vontades individuais de agora, diria a ela pra agarrar com força e não fazer nada feio pra perdê-la, porque ela experimentará uma felicidade mais valiosa que ouro. Diria a ela pra te abraçar forte em toda e qualquer oportunidade e te dar todo carinho do mundo, além de te olhar o maior tempo possível, te beijar e te admirar. Diria a ela para respeitar sua família, amá-los e construir uma com você. Falaria pra ela viajar o máximo de vezes com você, porque você é uma ótima companheira de viagem, e fazer muitos programas ao seu lado, porque você é a melhor namorada. Diria a ela para te fazer mais feliz do que eu fui capaz.

Eu acordo todos os dias com um vazio indescritível dentro de mim, mas apesar disso, esse não é um amor que faz a gente querer se matar, que traz a depressão consigo; não é um amor que faz querer causar ciúmes no outro e provocá-lo com uma vida de mentira. Não. É um amor tão grande que as lembranças têm uma força especial, de trazer pra boca, pro nariz, pra pele a certa sensação do beijo, do cheiro e do corpo.  Esse é um daqueles amores que só se tem uma vez na vida, que a gente lembra quando tá velhinho e esboça um sorriso e uma lágrima no rosto; é amor de rezar baixinho pelo bem do outro e de escutar bem alto as saudades.