terça-feira, 25 de junho de 2013

infinitas vezes

Até que chegará o dia em que seremos obrigadas a engavetar tudo o que passamos e eu não mais verei as fotos penduradas no móvel de sua sala, os discos no canto do cômodo, a cama bagunçada, nem os livros e DVD's na estante. Chegará o dia em que as coisas se esfacelarão e terão de se contentar com o nome de lembrança, nome este que condena ao esquecimento tudo que não mais pode ser abraçado. Nós nos perderemos nos caminhos opostos aos quais, inconscientemente, induzimo-nos a tomar e como quem assiste da calçada seu grande amor partir em um ônibus, veremos a distância se alargar entre nossos corpos e corações. Chegará a noite que, silenciosa e ardilosamente, se pronunciará como sendo a última que passaremos juntas e, sem disto saber, nós não nos apertaremos o suficiente na cama para compensar as saudades que farão doer nossos ossos em todas as demais madrugadas seguintes; então, no entardecer, nos despediremos com sorrisos nos rostos, com o coração em paz, sem saber que esbarraremos na separação e que não mais nos encontraremos dentro dos olhos da outra, quando eles faziam do mundo um lugar familiar para se viver. Haverá o dia em que você me consolará dizendo nunca sair do meu lado e eu lhe assegurarei que nunca mais amarei ninguém, mas então estas promessas cairão por terra e inventaremos outros amores, andaremos ao lado de outras pessoas e trairemos nossos corações e almas - que continuarão a chamar, a gritar, a berrar pela outra. Seremos consumidas pelo frenesi da vida e cada vez mais encararemos como longínquo os momentos que vivemos juntas, remanejando para um canto de nossos íntimos o que passamos e isto será necessário para que outras pessoas ocupem-nos como sendo mais real e prático o que elas têm a nos oferecer do que a ideia distante daquilo que éramos. Haverá o dia em que eu irei ao cinema sozinha, em que eu viajarei sozinha, em que algo importante me acontecerá e eu não dividirei com você; haverá noite em que o máximo de ti que terei comigo serão recordações ou a sua blusa por mim vestida - para, infantilmente, sentir-me mais perto; haverá o dia em que não mais nos veremos nem conversaremos. Chegaremos ao ponto de pensar que nunca nos separaremos, mas então chegará também o dia em que seremos apartadas e num primeiro momento, sentiremos uma dor insuportável, mas então seguiremos, não iremos morrer por isso e entenderemos que nossos passos seguirão sozinhos, desconhecendo o motivo do seu peso (e haverá novamente o dia que compreenderemos estarem eles pesados por terem deixado para trás outros dois pés que dividiram consigo o peso da vida que se insinuava pela frente). 

Até que chegará o dia em que, após muito tempo, nos reencontraremos - sabe-se lá por qual motivo, e meu coração estará velho, eu carregarei nas sobrancelhas, nas bochechas, na boca e nos olhos aquela invisível marca de quem há muito perdera um grande amor e me comportarei com um quê de sabedoria-arrogante por já ter vivido "muita coisa difícil". Haverá o dia em que eu novamente lhe verei - poderemos estar comprometidas ou não, poderemos ter filhos ou não - e, independentemente de tudo, me reportarei à inocente e bonita ideia de que aquela ali na minha frente já foi quem comigo dividiu uma vida, uma família, animais de estimação, viagens, angústias, felicidades, um copo de água... Meu rosto se encherá de vida e eu me reconhecerei naquela que eu tanto amei, mas então o tempo, este inconveniente elemento, me advertirá de que terá se passado o número de dias necessário para o amor acabar... e então neste dia, como quem gosta de todas as obviedades contrariar, pela enésima vez eu me apaixonarei por você.



Ando pensando muito em você. Alguns acreditam que quando se faz tão intenso assim um pensamento, ele é correspondido, mas eu não compartilho desta visão otimista. Espero somente que você esteja bem. Às vezes, acordo de madrugada, com uma coisa estranha dentro de mim e com você na cabeça, num horizonte distante que chega até doer tentar enxergar. Enfim, nem sei se você ainda aparece por aqui e caso não o faça, não me sinto triste, pois é sinal de que você seguiu em frente e que está feliz, única coisa que desejo para sua vida. Me submeteria a escrever uma vida inteira sobre você para assegurar sua felicidade. Fique bem. Abraço.

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