sábado, 4 de maio de 2013

sem C. blues

Quando as coisas entre a gente terminaram, eu confesso que não me situei muito bem naquele contexto e não entendi o que aquilo significava. Chorei, como não poderia ser diferente, mas naquele momento as lágrimas eram mais pela falta imediata que eu sentiria de você no meu cotidiano do que pela dimensão do fim. Era uma coisa mais pelo costume.

Depois que as coisas terminaram, eu fiquei meio aérea ao que estava acontecendo, não compreendia muito bem os efeitos daquela ruptura e passei a agir de uma forma ininteligível. Eu tentei me distrair saindo algumas vezes, conhecendo pessoas novas e que, à primeira vista, apresentavam papos agradáveis e inéditos. Passou-se algum tempinho - o necessário para que algumas percebessem minha falta daquele ar super-cool de quem se mostra interessante-demais-pra-ser-verdade - e eu entendi que os lugares mais nocivos que eu poderia frequentar seriam festas e mesas de bares e que as pessoas mais entediantes que eu poderia conhecer viriam depois que eu convivi com você.

Passei a ficar mais em casa e a ver em cada canto de parede, em cada quadro e roupa de cama vestígios de suas vindas até aqui. Depois que a fase da suspensão, do choque passou, eu comecei a dormir cada vez mais encolhida de tanta dor que sentia nas costas por chorar e chorar e chorar... minhas costelas doíam tanto e eu virei uma engrenagem do meu próprio dia: trabalho-faculdade-cama, tudo intermediado por chás e cigarros - não vou mentir. 

Poucas pessoas do meu convívio sabiam de sua partida e eu conversei com algumas sobre, mas nunca para lhe depreciar, na maioria das vezes ficava engolindo o choro ao falar de como eu sentia sua falta. Mas aí cansei de falar também. Cansei porque todo mundo tem um conselho enlatado sobre isso, um ar de sapiência para dar palpites em como meus dias seriam dali em diante e isso foi me exaurindo, então eu guardei você só pra mim, só pra mim. 

Esperei por algum e-mail, por uma ligação ou mensagem, que vieram algumas vezes, mas nunca no teor que eu tanto aguardava, pois eu queria mesmo era viver com você de novo.

Depois que você foi embora, eu senti a dor de pensar em você com outra, um ardor no coração que não cessava e eu apertava minhas mãos uma contra a outra e pedia incessantemente "faz passar, faz passar...". Superados os surtos de ciúmes, eu tentei me elevar, abdicar dos meus egoísmos e encarar que existiria(m) outra(s), então a despeito de tudo, desejei que ao menos fosse alguém de caráter, mas continuei chorando por lembrar do seu quarto, da sua cama, do seu colo. 

Entendendo que as coisas não seriam esquecidas, eu ao menos tentei desgastar ao máximo todas as lembranças que tinha sobre você, todos os nossos momentos juntas. Recrutava incessantemente estas memórias para que, sei lá, na milésima vez que eu me lembrasse de algo, não machucasse tanto como vinha fazendo. Não adiantou: sempre aparecia algo novo, uma oração dentro da igreja Tiradentes quando pedi a Deus que me fizesse sua esposa ou sua coragem em peitar o mundo ao segurar minha mão na rua. 

A segunda chance que eu tanto quis pra nós veio, mas você não conseguiu ficar por muito tempo e eu, apesar de te amar muito, não gostei de você naquele momento. Depois, malogrei o destino e o culpei por eu não ser o amor da vida do amor da minha vida. 

O temor de dormir retornou, não pelo sono, mas porque a hora de acordar era o pior momento do dia, quando me levantava, sentava na beirada da cama e ainda confusa, enebriada, via clarear na frente a realidade daquele dia inteirinho sem você. Depois que você se foi, as horas ficaram mais preguiçosas.

Cheguei a pensar que os culpados dessa dor eram meus pais, por terem me feito crescer e querer alguém que vivesse comigo um amor tranquilo e apaixonado igual ao que um tem pelo outro. Fui absurda a esse ponto. Depois voltei a sã consciência e vi que essa ideia de amor era linda demais e que não existiu nada depois que você me deixou justamente porque amor só existiu depois que você me encontrou.

Atingi o momento da reflexão e comecei a pensar em todos aqueles outros casos de gente que se separa e segue a vida. Comecei a repassar frases como "ninguém morre de amor" ou "todo mundo já passou por isso" na cabeça e senti enorme raiva por esses clichês acharem que sabiam alguma coisa sobre você e sobre mim. Senti nojo por ousarem nos igualar àqueles casos que se resumem a "passar de em um relacionamento sério para solteiro". Me fechei ainda mais prum mundo que acha que amor é doença, que isso "se cura" bebendo ou botando alguém no lugar. 

Depois que você se foi, eu não desisti da vida, claro que não!, mas eu tô cada dia mais reclusa, mais quieta, menos rodeada por pessoas. Cada dia eu me reergo um pouquinho, tento cuidar com mais otimismo das minhas coisas e ter mais cuidado com minhas costas antes de dormir; além disso, continuo a te visitar cada noite da maneira que posso e converso com você baixinho. 

Depois que você se foi, cada dia eu choro um pouquinho, mas diferente de triste ou magoado, é um choro contido de saudade, simples e quase imperceptível, que é diário porque meu coração é mais feliz por você chorar do que por qualquer outra sorrir.

Depois de você eu continuo parada no antes do depois, suspensa, como a bolha opaca de sabão de Caio Fernando.

Saudades, amor. Sempre.




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