domingo, 12 de maio de 2013

eu sempre vou querer subir

O que mais tem aliviado meu coração nos últimos tempos tem sido deitar no colo da minha mãe e ficar ali, quietinha. Eu queria trazê-la pra perto de mim, para que ela morasse aqui comigo e que nessa hora da noite, quando meu coração mais aperta e o sono insiste em não vir, ela pudesse me colocar no seu colo e me acalmar.

O último dia que nos falamos pelo telefone foi um dos mais pesados pelos quais passei. Eu não encontrava lugar no único lugar do mundo que me aconchegava naquele momento: na minha casa. Numa inquietação que eu não conseguia identificar, eu flertei com o desespero, eu estava muito atordoada porque eu vi, em duas semanas, você voltar e depois, partir. Eu estava desesperada, mas eu não queria te fazer voltar, eu queria que você olhasse pra mim e andasse em minha direção por sua vontade, por isso eu estava tão aflita: você não olhou, só andou adiante e eu não sabia o que fazer, amor.

Depois de tentar te ver ao ir pra São Paulo, a margem de erro daquela viagem se concretizou e eu voltei pra cá sem te encontrar, sem te dar o que eu havia lhe comprado e sem você - porque, naquele momento, eu achava que se você me visse e me abraçasse, se você sentisse meu coração disparar contra o seu, você iria querer voltar. O amor é um sentimento grande demais e por isso mesmo, por esta grandeza, as vezes até ele, que não é livre de defeitos, é prepotente. Quando eu fui embora, ouvindo incessantemente Jeff Buckley, eu chorei muito, mas menos por sua negativa em me ver do que por comparar aquela partida com as outras de antes, que embora tristes, eram paradoxalmente felizes por haver a certeza de que teríamos outras despedidas.

Na segunda vez que fui, somente aí estive porque eu não tinha escolha. Eu não queria ter ido, eu não queria ter passado pelo mesmo caminho do metrô e descido na estação Brigadeiro, muito menos queria ter passado na porta da sua casa. Foi uma coisa tão, mas tão ruim! Eu tava ali, sabe? Eu não estava "perto", como na vez que fiquei na casa da minha amiga, mas eu estava ali, em frente, e eu não conseguia pensar em mais nada a não ser em subir, em bater naquela porta, te abraçar e chorar tudo o que eu queria chorar ali e que choro agora por não mais poder entrar na sua casa (que antes, por amabilidade e pureza de quem está apaixonado, chamávamos de nossa). Eu queria me enfiar na sua cama e ficar quietinha naquele canto, apenas certa de que você estava ali do meu lado, e ter chorado muito pra descarregar o que o meu peito sentia naquele instante. Ao passar pelo prédio, eu olhei para trás e me lembrei da visão da sua janela, em como eu parava nela as vezes e observava a Paulista e imaginando-me daquele ângulo ali embaixo, eu não mais era seu amor, tão somente mais um dos que passavam pela avenida e tudo o que eu quis foi subir e me entregar a você, encaixar-me no seu colo e nele chorar, ele que me protegia tanto quanto o da minha mãe.

Eu não gosto de lembrar desses dias, mas eles não saíram da minha cabeça hoje. Eu não me senti decepcionada, você nunca disse que me encontraria, nunca me garantiu nada, e só estou te contando tudo isso agora porque talvez minha angústia seja por pensar que você não tinha noção do quanto eu queria te ver e com isso você descobre, se antes já não sabia, o quanto de mim ficou aí, com você, naquele quarto, naquela cama, naquela janela.

Tudo que vivemos foi tão bonito que, a contrassenso dos términos convencionais, eu não desejo apagar seus traços. Pelo contrário, eu os cuido, os mantenho intactos, os protejo de qualquer deturpação que tente poluí-los, de qualquer ideia ruim que tente maculá-los, porque você está neles, você está na minha cama, na medalhinha de São Bento, no estojo da Guatemala, no quadro e nas HQ's do Batman. Você está em tudo dentro de mim e que não seja ruim, você está em tudo mesmo que não queira estar; seu colo continuará sendo o melhor lugar do mundo mesmo que você não queira; eu continuarei a escrever mesmo que você continue andando sem me olhar e continuarei a querer subir mesmo que você sequer imagine que eu esteja na sua porta.

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