domingo, 5 de maio de 2013

banquinhos

Eu vivi em pouco tempo o que pessoas amam em uma vida inteira. Pode-se tranquilamente chamar isso de intensidade ou exagero, mas ao conversar com meu avô numa tarde dessas, sentados no banquinho que tem em frente à minha casa, quando puxei um papo despretensioso sobre ele e minha avó, concluí que o que sinto é só amor mesmo.

O que vivi com C. não se transmite, nem se transcreve. O que vivi com ela foi a coisa mais linda que já me aconteceu, foram os sentimentos mais bonitos que já senti. A curiosidade e a novidade não produziam qualquer efeito sobre mim, sobre meus sentidos: existia C. e mais ninguém. Chegava perto da incredulidade aquela felicidade plena que me arrebatava todos os dias quando eu me colocava de pé.

Depois do tempo que passamos juntas, entendi que damos nomes a sentimentos sem ter nenhuma propriedade para isso. Antes da C. eu, que já tinha usado a torto e a direito a saudade e o amor, não tinha a menor noção do que ambos significavam. Agora, feliz ou infelizmente, eu entendo que saudade é perene, intermitente, constante no coração, nas lembranças, nos gestos, nalguma vitrine ou num objeto que nos reporta imediatamente à pessoa que amamos. Saudade reside dentro e fora de nós e não importa quanto tempo passe, ela seca a boca, esfria a barriga, faz chorar e sorrir, sem anunciar que está chegando, ao menos para nos prepararmos um pouco: ela vem de uma vez e nos faz interromper a leitura, perder a atenção da música, abaixar a cabeça e inspirar até quatro e soltar até seis (muitas vezes).

Amar C. me mostrou que podem existir pessoas que marcam, mas somente uma fica, independentemente das nossas vontades. Ela se foi, sim, pode nunca mais voltar, também, e eu não serei a mesma para o resto do mundo, porque a gente é assim, fingimos algo para os outros e eles fingem que nos conhecem, porque é mais fácil, mas bastaria poucos minutos de conversa - ou mesmo me olhar - para que ela me reconhecesse e percebesse que somente ela permaneceu.

Meu avô vive há mais de cinquenta anos com minha avó e ainda a ama, assim como ela o ama, mas poucas pessoas terão a sorte que ambos tiveram. Meu avô passou por todas as fases de felicidade com minha avó e hoje, a alegria para eles resume-se no companheirismo que perdurou, na amizade, no prazer de ficar naquele banco, ao lado dela, vendo a vida passar na pacata rua de nossas casas. Meu avô, naquele dia, me mostrou que nada posso prever sobre o percurso, mas, ao olhá-lo, percebi que no final eu também estarei assentada nalgum banquinho, com ela do meu lado ou ainda esperando-a pra completar nossas palavras-cruzadas.

Amo você.

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