segunda-feira, 20 de maio de 2013

acho que sonho demais

Uma palavra, quando sai da nossa boca ou por nós é escrita, é somente meia-palavra. Ela apenas se completa quando chega aos ouvidos ou aos olhos de quem ela é destinada, quando nosso interlocutor lhe preenche a outra metade. Nunca será dito algo que se transportará estéril e limpamente até o outro, nossas frases sempre estarão impregnadas de significações, algumas mais distintas, outras mais congruentes.

As coisas que já nos foram ditas, todas elas, como todo o resto, estão sujeitas a essa regra . Há jeitos diferentes de se proferir palavras e podemos nos condicionar a ouvi-las de determinado modo: seja com o carinho, a curiosidade, a saudade e mesmo os sentimentos ruins, como a preguiça e a raiva. Neste sentido, quando gostamos temos que nos esforçar para ao menos tentar - e ainda que não passe disso - interpretarmos nossas próprias palavras pelos ouvidos ou olhos do outro, porque a complementação dada por ele ao que por nós foi dito é regida pelo seu coração e por sua cabeça, locais ocupados por nós.

Nenhuma metade de palavra jamais será integralmente correspondente ao efeito que gostaríamos que ela causasse. A maior obviedade já dita é atestar que nenhum ser humano é igual ao outro e a maior contradição, alegar que não nos entendemos por esta diferença. As distinções sempre existirão, quer queiramos ou não, e o que as faz transponíveis está no esforço que empregamos para ler ou ouvir com os sentidos de quem amamos o que ele nos quis dizer (e esta alteridade somente é possível entre pessoas que se amam, senão engaveta-se como não entendido ou loucura). Apesar da nosso entendimento, há o do outro, repleto de peculiaridades e tentar entendê-lo é essencial para que os passos continuem sincronizados - mas não é essencial ao amor, porque este sentimento não depende de palavras para existir.

Eu atribuo significados profundos demais às palavras que por mim são ditas e que chegam até mim. Talvez isso seja o motivo de ainda aqui escrever, talvez esse seja o motivo de acreditar que um amor só é da vida se durar a vida toda, talvez algum dia minhas palavras serão novamente complementadas de um jeito tão bonito que eu jamais imaginei ao dizê-las, talvez um dia eu também me silencie...

A vida vai tecendo distrações no nosso dia, fatores externos se esforçam para nos dar novas possibilidades e focos. Neste meio, eu vou me organizando, às vezes me esqueço, noutras muitas lembro. Nesta história, eu vou andando, redescobrindo cores em lugares antes inanimados e quando menos se percebe, horas se passaram. Cada vez mais o vazio aumenta, assim como minha capacidade de viver com ele, mas sempre existirão as manhãs e a saudade, antes mesmo que meus olhos se abram. A verdade é que a vida vai se ajeitando da maneira que pode, tentando ser atraente o máximo possível e algumas vezes até me deixo enganar, mas a minha alma continua chamando pelo mesmo nome...






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